quinta-feira, 21 de março de 2013

A Civilização Maia


       Chichén Itzá, Pirâmide de Kukulcán, eleita em 2007 em Lisboa, uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo.
           
         Em evidência na mídia mundial nos últimos anos devido a diversas interpretações míticas em torno do dia 21-12-2012, o qual foi cercado de expectativa mundo afora, a Civilização Maia ainda exerce muito fascínio em seus estudiosos, tendo o poder de despertar paixões e gerar calorosas discussões acerca de teorias pouco ortodoxas, carecendo quase sempre de comprovação científica. As hipóteses são diversas, desde aquelas mais racionais até aquelas que relacionam o povo Maia a “antigos astronautas”.A Teoria dos Antigos Astronautas, proposta pelo suíço Erich Von Däniken em seu livro “Eram os Deuses Astronautas” de 1968, é freqüentemente utilizada como argumento por aqueles que defendem relações entre os Maias e “antigos viajantes do espaço”, baseados em representações produzidas nas cidades Maias. Rejeitada veemente por cientistas e acadêmicos da área, essa teoria é sempre rechaçada de pseudohistória.
    A partir de agora, embarcaremos numa viajem pelos confins da história pré-colombiana, deixando tais teorias de lado, apoiando-se somente nos conhecimentos da história moderna.

De onde vieram os Maias? Qual sua origem?



        Supõe-se pelas evidências arqueológicas encontradas, que essa civilização tenha surgido há aproximadamente 3000 anos. Os povos que constituíram o grupo maia, aparentemente, eram originários da região oeste do atual Estados Unidos.  A Civilização Maia ocupou territórios que vão desde o sul do atual México (atuais estados de Chiapas, Tabasco) até a Península do Yucatán em áreas da Guatemala, Belize, El Salvador e Honduras. Sua história é freqüentemente dividida em três períodos:
   a)   Pré – Clássico (2000 a.C á 250 d.C)
   b)   Clássico (250 d.C á 900 d.C): Auge da civilização maia;
         c)   Pós-Clássico: Período de decadência;
      Os Maias: Uma sociedade amplamente urbanizada
        Os Maias constituíram uma sociedade amplamente urbanizada. Suas cidades eram constituídas de grandes praças, com enormes palácios e centros cerimoniais. Estruturadas em torno das praças, com a presença de templos religiosos, palácios, casas, casas de banho e espaços para á pratica de esportes, geralmente, elas se desenvolviam próximas a fontes de água, o que garantia o seu abastecimento.
        Organizados pelo território em várias cidades-estados independentes, formados por volta doe 300 a.C, governadas por poderosos e influentes reis vistos pelo povo como homens de atributos sobrenaturais. As constantes guerras entre as cidades estados, marcadas por lutas sangrentas, evidenciavam a competição entre os reis. Nunca chegaram a formar um Império unificado, porém suas semelhanças culturais, religiosas e social, fez com que designemos Civilização Maia o conjunto de povos que habitavam a região dos atuais estados mexicanos de Chiapas, Tabasco,Quintana Roo , Campeche e Yucatán, estendendo-se por todo o norte da América Central, incluindo as atuais nações da Guatemala , Belize , Norte de El Salvador e oeste de HondurasNesse período era comum o as alianças para exercerem o domínio militar sobre outras cidades. As principais cidades da civilização maia foram Tikal, Palenke, Calakmul e Chichen Itzá. Um dos principais conflitos foi o envolvendo os reinos rivais de Tikal e Calakmul. Calakmul fez alianças e montou um cerco a Tikal, que mesmo assim em 736 venceu Calakmul. Nos anos seguintes, Tikal anexaria os reinos vizinhos de El Peru (743) e Navanjo (744). Para simbolizar e representar essa conquista, o rei de Tikal construiu o Templo do Grande Jaguar e o Templo Quarto, este com 165 metros de altura e 22 andares, tendo sido necessário 190 mil metros cúbicos de pedra para sua construção. Estes monumentos tinham como função indicar o poder do soberano, assim como seu prestígio, e era uma forma de celebração das vitórias militares.
      Um exemplo dessa organização pode ser encontrado na cidade de Palenke, considerada pelos descobridores espanhóis “Meca” da arquitetura americana. Ali, durante o ano de 615, ascendeu ao trono o Rei Pacal. Como forma de legitimar e divinizar seu poder, Pacal declarou sua mãe a encarnação do ventre da terra, a criadora de deuses e humanos e com isso se tornou filho de uma deusa. O Rei Pacal é conhecido como O Grande Construtor, pelas obras construídas durante seu reinado, como a ampliação do palácio real e a construção do Templo das Inscrições. Nele ficava a Tumba de Pacal, onde o seu corpo foi colocado após sua morte aos 80 anos de idade. Sua tumba rivaliza pela grandeza com as pirâmides dos faraós egípcios, e durante o seu reinado observou-se a criação de novos padrões arquitetônicos, com novas formas e estruturas que substituíra aquela com arco de modilhão em forma de V, os quais conferiam mais espaço interno nas construções. Seu filho, o Rei Kan Bahlam não só deu continuidade as suas construções como aperfeiçoou suas obras, criando um sistema de aquedutos que cortavam o subterrâneo de Palenke. Isso fez de Palenke um centro fervilhante da cultura maia. 

Ruínas de Palenke

Palácio Real de Palenke

        As grandes construções maias representavam a grandiosidade e o poder de seus reis. É importante ressaltarmos que nelas, os materiais de construção eram muito rudimentares. Nas obras verificava-se a ausência de bestas de cargas, e a não utilização de ferramentas de metais. Conheciam a roda e os metais, porém estes entendiam que o trabalho teria mais valor se exigisse muito esforço humano, isso explica a não utilização destas técnicas. A mão de obra necessária a estes grandes empreendimentos, originava-se do pagamento anual devido pelos cidadãos aos reis, semelhante á mita no Império Inca e ao cuatequil no Império Azteca. Como matéria prima utilizava-se principal as pedras calcárias, muito abundantes na região onde se desenvolveram. Após a estrutura pronta, as construções eram revestidas pela estuque maia, uma argamassa que se assemelha muito ao cimento.

Sacrifícios de uma Religião Cerimonial

         A Religião maia ainda não é completamente compreendida pelos historiadores.Sabe-seque ela tinha uma forte ligação com os elementos naturais, sendo associada aos ciclos terrestres. Em períodos que antecediam os grandes eventos religiosos, era praticado um processo de purificação o qual incluía jejuns e abstenção sexual. Os maias sacrificavam seres humanos e animais, como forma de estabelecer e renovar suas relações com os deuses, sendo que a vida e o sangue humano eram as coisas mais valiosas e sagradas á serem oferecidas aos deuses. Acreditava-se que o sacrifício aos deuses, era um modo de compensação pela divida humana contraída no momento da criação. Nestes eram comuns os casos onde os corações das oferendas eram arrancados ainda batendo e exposto pelos sacerdotes como um troféu. O que podemos dizer é que a religião maia era politeísta, ou seja, adorava uma série de deuses que não se diferenciavam entre bons e maus. A forma de governo Maia, freqüentemente é entendida como uma Teocracia, onde religião e governo estavam fortemente ligados ou mutuamente influenciados.
      
Ruínas de Calakmul
Ruínas de Tikal
       Os avanços matemáticos na civilização maia foram notáveis. Estes desenvolveram o conceito de zero, bem antes de ser conhecido na Europa, e com cálculos geométricos precisos e sofisticados propiciaram inovações tecnológicas notáveis em suas construções, também utilizando também da “razão áurea” (sistema de proporção), o que se suspeita, vem sendo utilizada há séculos, sendo presente em construções como o Parthenon na Grécia e as pirâmides do Egito. Em uma fase mais desenvolvida de suas construções observa-se o emprego em larga escala da abóbada mísula, o qual o princípio apresenta muitas limitações a amplitude do espaço interno.

Astronomia: O Estudo dos Corpos Celestes
      
      Assim como outros povos da Mesoamérica, os Maias se sentiam atraídos e fascinados pelos mistérios do cosmo tornando muito desenvolvido no mundo maia a astronomia. Para eles, os astros representavam a vontade dos deuses, estabelecendo uma forte relação entre a astronomia e a religião. Monitoravam as fases e os cursos de vários corpos celestes, como a Lua e Vênus, previam eclipses com uma precisão espantosa, explicando a presença de vários observatórios astronômicos nas cidades maias, os quais eram construídos de acordo com a interpretação maia das orbitas das estrelas. 
      Possuíam um sistema de escrita, único entre os povos da América pré-colombiana que podia representar completamente o idioma falado no mundo maia, com seu alfabeto, constantemente chamado de hieroglífico, consistia na combinação de elementos fonéticos e ideogramas. É nesse contexto que surgem os tão famosos Códices Maias, que retratavam temas como a religião e astronomia, sendo o mais importante o Códice de Desdren. A maioria desses manuscritos foram destruídos durante a invasão espanhola na região, o que dificulta os estudos sobre o período de florescência da cultura maia.

Ficheiro:Dresden Codex p09.jpg




























Página do Códice de Dresdén
  

File:Codex Tro-Cortesianus.jpg
Fragmento do Códice de Madri


   Ao longo do tempo desenvolveu-se um calendário dividido em ciclos de 52 anos, que eram bem mais precisos que o calendário gregoriano europeu. O ano astronômico ou solar possuía 365,24 dias, com 20 grupos de 18 dias e com cinco dias adicionais, considerados profanos, e o calendário religioso o qual regia a vida da “gente inferior”, as atividades agrícolas e as cerimônias religiosas, possuía 260 dias, sendo dividido em 13 grupos de 20 dias. A cada 52 anos, os dois calendários se encontravam no mesmo ponto de partida, determinando o fim de um ciclo e o início de outro. Vista a necessidade de se administrar bem esses cálculos, um sistema numérico simples e engenhoso fora criado, tendo por base o número 20, reduzindo-se a utilização de somente dois tipos de símbolos, um ponto para designar a unidade e uma barra para representar o cinco, assim como uma concha alongada pra representação da noção de zero. 

Maias: Uma vida em Sociedade

        A Sociedade Maia constituía-se de uma forma que conhecemos como Estamental, ou seja, a mobilidade entre classes era muito pequena e as vezes ausente. No topo da pirâmide social estava o rei, que sempre governava em nome de um deus. De cargo hereditário, passado de pai para filho, a ele cabia escolher entre os membros da nobreza os altos funcionários do Estado, como o chefe do exército, o responsável pelo recolhimento dos impostos, e o homem responsável pela aplicação das leis. Ainda no topo se encontrava os sacerdotes, responsáveis pelos templos, pelas pesquisas astronômicas, pelos tratamentos médicos e pelo ensino.
            Na posição intermediária estavam os guerreiros, os artesãos especializados na produção de objetos do culto ou artigos santuários e os pequenos comerciantes.
       A base da pirâmide social maia era formada pelos camponeses e pelos trabalhadores das construções. Havia ainda os escravos, os quais eram geralmente prisioneiros de guerra e/ou pagos como tributo pelas regiões conquistadas. Como em toda sociedade, eram os camponeses e escravos que sustentavam o Estado e a nobreza com seus privilégios. As terras pertenciam ao Estado e os camponeses pagavam tributos para usá-las, caracterizando o modo de produção asiático.

Econômia

          A economia era baseada na agricultura, praticada nas terras do Estado. O cultivo era feito pela forma rotativa de culturas e feito sem adubagem e sem o emprego de técnicas que permitissem um melhor aproveitamento da terra, o que esgotava o solo rapidamente, fazendo com que as terras tivessem de ser abandonadas por alguns anos e forçando a derrubada de florestas para a abertura de terras cultiváveis. Utilizavam queimadas para limpar a área a ser cultivada, nos fins de abril, quando terminava a seca. Nos primeiros dias de maio, semeavam a terra. Nos meses seguintes, os quais chuvosos, trabalhavam na lavoura á fim de impedir o crescimento do mato e de ervas daninhas em meio a plantação.A colheita era realizada entre os meses de outubro e novembro, sendo época de comemorações e festividades. As observações astronômicas garantiam-lhes melhores colheitas. Os principais gêneros cultivados eram milho, feijão, abóbora, cacau, mamão, abacate, algodão e tabaco, além de possuíam uma importante indústria lítica, com a produção de artefatos de pedra, que lhes forneciam armas, enfeites e instrumentos de trabalho. Em regiões específicas, como no nordeste de Belize, desenvolveu-se um modelo intensivo de agricultura, tornando essa região um verdadeiro “celeiro” de milho, importando para as áreas centrais da civilização maia, como a região de Tikal.
      O comércio era feito com base nas unidades troca, principalmente sementes de cacau e sinetas de cobre. Isso permitiu o desenvolvimento de uma classe de comerciantes, que vendiam e compravam os excedentes de produção. As trocas eram intensas. Pedras vulcânicas vinham das montanhas maias da região sul de Belize, com a finalidade de produzir-se metate, que eram pedras utilizadas para moer o milho. Ainda sal, obsidiana (material indispensável na manufatura de materiais cortantes), pigmentos minerais destinados a pintura e a cerâmica, carapaças de tartarugas do mar, conchas, pérolas do mar, plumas de aves tropicais eram objetos de intenso comércio na região, criando uma rede complexa de trocas comerciais, integrando diversas regiões ocupadas pelos povos maias. Havia ainda o cultivo de algodão e a manufatura de tecidos ricamente bordados, estes por fim acompanhados pela produção de artigos de luxo – estes consumidos somente pela camada “dirigente” da sociedade maia – como por exemplo o cacau, consumido em forma de bebida.

Mas o “Porquê” da chamada decadência Maia?

       Este é um dos maiores mistérios em torno dos maias. Variadas hipóteses são apresentadas, mas nenhuma é unânime.
    A teoria mais aceita defende a partir de achados arqueológicos que aproximadamente no ano 900 da era cristã, longos períodos de graves secas assolaram a região. A partir daí, a população teria abandonado as cidades e se dirigido a regiões isoladas, onde esta plantaria sem pagar impostos aos reis. Também acredita-se que rebeliões sociais da população tenha acelerado a desintegração da civilização maia clássica. Essas rebeliões  deveram-se ao enrijecimento da elite, por ela reter para si o poder e a riqueza por vias hereditárias. Sugere-se que nesse período ocorrem invasões de povos vindos do norte do México. Porém é importante colocar-se que a cultura maia não desapareceu nem mesmo com a chegada dos espanhóis na região. Quando os “conquistadores” espanhóis entraram em contato, com os povos da Península do Yucatán e dos planaltos da Guatemala, já fazia seis séculos que a cultura maia clássica havia perdido seu brilho maior, e entrado em decadência. A maioria das cidades estavam em ruínas, sendo engolidas pela floresta tropical, ficando completamente esquecida até 1839, quando o explorador americano John Lloyd Stephen visitou algumas cidades em ruínas. As populações que ainda residiam nas cidades maias, ofereceram grande resistência á conquista espanhola, sendo a ultima cidade-estado maia subjugada somente em 1697.
          Em áreas dos atuais: sul do México, Guatemala e Belize, a maioria da população que vive em áreas rurais é descendente dos maias, mantendo muitas de suas tradições, costumes e até mesmo suas línguas. Em certas localidades, ainda observa-se as celebrações especiais ao fim da colheita, como faziam os antigos maias. Nesses lugares estima-se que a comunidade Maia possua algo em torno de 6 milhões de habitantes, uns mais integrados as localidades em que residem, e outros mais isolados, inclusive falando seu idioma nativo, como primeira língua.

Quer saber mais? Nós indicamos...


Livro: A Civilização Maia, Paul Gendrop. Jorge Zahar Editora 

Envie-nos suas sugestões....
caminhosdahistoria@hotmail.com


Um comentário:

  1. Boa tarde! vai ai 1 pergunta: Como é possivel compreender o deslocamento geografico da civilizaçao Maia?

    ResponderExcluir