sábado, 6 de abril de 2013

A Civilização Asteca


Astecas: Da Origem ao Magnífico Império
                          
      Estudos mais recentes apontam que a marcha asteca em direção ao Vale do México tenha se iniciado por volta do ano de 1168. Originários de Aztlan - região possivelmente localizada a noroeste do México ou sul dos atuais Estados Unidos, o que gera discussões entre os historiadores de diferentes épocas, pois não há um consenso entre eles, nem documentos que provem com exatidão a localização de Aztlan- e dirigindo-se para o sul, em direção a cidade de Tula, os astecas, por diversas vezes se encontraram com outros povos, que seguiam o mesmo fluxo migratório. Essa marcha duraria cerca de um século, e durante esse período, os astecas se estabeleceram em vários locais por determinados períodos, fosse por meios pacíficos ou mesmo por guerras. Nesse período, eles assimilaram uma série de costumes ligados a religião e a cultura, assim como variadas técnicas de cultivo do milho. Durante esse período, há poucos registros, porém alguns manuscritos indígenas retratam a marcha sendo guiada e chefiada pela classe sacerdotal.
        Após conflitos com chefes locais, os astecas se refugiaram nas ilhas da região pantanosa a oeste do grande lago. Segundo reza a lenda e a tradição asteca, foi ali que em 1325, Uitzilopochtli falou ao grande sacerdote Quauhcoatl que seu templo e sua cidade deveriam ser construídos "em meio ao bambuzal'', sobre uma ilha rochosa na qual se veria "uma águia devorando alegremente uma serpente". Como mostram as antigas pigtografias, os astecas levavam uma vida sobre a água e sobreviviam graças a pesca e à caça de pássaros aquáticos, sendo a região escassa em matérias primas. Viviam em pequenas aldeias que estendiam-se sobre as pequenas ilhas. Em 1428, morre assassinado Chimalpopoca, o terceiro rei Asteca. Com sua morte, assume o trono o Rei Itzcoatl. Ele alia-se ao príncipe Nezaualcoyotl, herdeiro do trono de Texcoco, invade e destrói a cidade de Azcapotzalco, pondo fim a submissão das duas cidades. Além disso, alia se a Tlacopan, uma cidade da tribo de Azcapotzalco. Essa Tríplice Aliança, é na verdade, o embrião do Império Asteca (Tríplice Aliança). A cidade de Tenochtitlán passa a ser o centro do poder militar, enquanto Texcoco torna-se a metrópole das artes, literatura e do direito.
       Em 1440, o soberano asteca Itzcoatl morre, quando a Tríplice Aliança (Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopan) já dominava todo o vale central. Após sua morte, cinco soberanos exerceriam o poder até a invasão dos espanhóis em 1519. A morte de Nezaualcoyot em 1472, abriu o caminho para reforçar o poder de Tenochtitlán em detrimento das outras cidades da aliança o que tornou seu soberano Imperador do México, e os outros reis, seus simples vassalos. As conquistas geraram uma grande expansão nas fronteiras astecas, seja a norte, a oeste costeando todo o litoral do Golfo, a sudeste, as montanhas mixtecas e os vales zapotecas, ao sul chegando até o litoral do pacífico.
     A civilização Asteca viveu seu apogeu no reinado de Montezuma II (ou Moctezoma II), quando a população do Império chegou a 25 milhões de habitantes, distribuídos em 38 províncias e centenas de cidades e aldeias. 

Tenochtitlán: A Veneza do Novo Mundo

              

       Quando os primeiros exploradores espanhóis desembarcaram na região, e chegaram até a cidade de Tenochtitlan, a principal cidade Asteca, estes ficaram maravilhados com os feitos da engenharia asteca. Palácios, templos e pirâmides cerimoniais, aquedutos, diques e o melhor: uma cidade cortada por canais, emersa em um lago. As comparações foram inevitáveis, e os espanhóis consideraram “a Veneza do novo mundo”.
      Porém é importante lembrarmos, que as condições do terreno não eram as mais propícias para a construção. Tratava-se de uma região pantanosa, o que gerava instabilidade para as construções. Para isso, foi desenvolvido um método em que se ancoravam profundamente pilares de madeira (estacas de madeira de 10 m de comprimento por 10 cm de diâmetro), revestidas por materiais de origem vulcânica, o que acabava tornando-se uma fundação sólida. No topo desses pilares eram erguidas as paredes. 
       Inicialmente, o transporte entre a ilha onde se localizava Tenochtitlán e o “continente” era realizado por canoas. Porém com o aumento populacional e a necessidade de transporte de matérias de construção, fora criado um complexo de elevados, os quais ligavam a ilha ás províncias continentais. Eram construídos á partir da fundação de duas fileiras de pilares semelhantes aos das construções, com o preenchimento de terra e pedra no vão formado por elas. Nesses elevados haviam pontes levadiças.
                                

      O centro da cidade fixou-se sobre a parte rochosa da ilha, onde encontravam-se a pirâmide de Tcocali e os santuários gêmeos de Uitzilopochtli e de Tlaloc, além de uma grande diversidade de santuários dedicados aos deuses, casas de oração, o calmecac (monastérios-colégios), e diversos palácios edificados por diferentes imperadores. O destaque vai para o Palácio do Imperador Montezuma II, com aproximadamente 200 metros de lado, com um conjunto de prédios, jardins e canais, onde funcionavam escritórios de coletores de impostos, tribunais, salas de reunião, depósitos do tesouro, apartamentos e residência do imperador, além de ser o centro político-administrativo do império. Ainda no palácio encontrava-se um zoológico, com jaguares, pumas, aves de rapinas e serpentes de chocalho. 
  A cidade era dividida em quatro grandes bairros: a leste, Teopan ("o bairro do templo"); a oeste, Aztacalco ("casa das garças reais"), o  bairro da nobreza; ao norte, Cuepopan ("lá onde desabrocham as flores") negociantes e artesãos; ao sul, Moyotlan ("lugar dos mosquitos"). Os canais da cidade facilitavam o transporte, que era feito todo por meio das embarcações. Além disso, possuía um mercado, onde compareciam por dia cerca de 20 a 30 mil pessoas e por onde enormes quantidades de mercadoria eram trocadas: tecidos e vestimentas, plumas e jóias, peles e plumagens, milho, vagens, pimentas, legumes, frutas e ervas, pássaros e caça, peixes, rãs vasos, utensílios de sílex, obsidiana e cobre, madeira, tabaco e cachimbos, móveis e esteiras. Também existiam lojas de boticário, cabeleireiros e vendedores de milho. Uma polícia especial garantia a ordem no mercado e um tribunal estava permanentemente a posto para resolver os conflitos.
    No início do povoamento, a água potável vinha das fontes que brotavam entre os rochedos da ilha. Porém com o aumento populacional, novas fontes se tornaram necessárias. Num primeiro momento, a água é transportada através de vasos de cerâmica em canoas, que os embarca nas províncias e os leva para Tenochtitlán. Devido ao aumento populacional houve um aumento na demanda por água potável, o que tornou necessário uma solução mais técnica e eficiente, com vistas a solucionar o problema da falta de água potável. Nesse contexto, a solução encontrada foi à construção de aquedutos. Foram construídos dois canais com cinco quilômetros, com 1,5 metro de altura e 1 metro de largura. A água agora jorrava em reservatórios públicos, e era distribuída a população. 
     De tempos em tempos terríveis enchentes devastavam Tenochtitlán, já que a região dos lagos não possuía rios que permitissem o escoamento da água, o que fazia com que as águas das chuvas se acumulassem nos lagos e invadissem a cidade. O problema só foi resolvido em 1449, sob o reinado de Montezuma I, com a construção de um dique com 16 Km de extensão, de uma margem á outra do lago. Esse dique fora construído usando junco, tronco, pedras e terra e tinha em torno de 4 metros de altura por 9 metros de largura. Além disso, fora feita comportas de madeira, para controlar o nível de água represada.
        Nas cidades ainda podia se observar a presença de trabalhadores, coordenados e organizados pelas autoridades locais, com intuito de limpar canais e aquedutos, assim como as ruas. A partir daí, podemos dizer que os padrões de higiene da cidade asteca eram mais avançados, se compararmos com o padrão das cidades européias da mesma época.

Organização & Administração

     No ano da invasão espanhola, 1519, a região que conhecemos como Império Asteca compreendia 38 províncias, entre as quais Atlan (um distrito militar) e Xoconocho (distrito militar, em território de língua maia, nas fronteiras da Guatemala). Seu território não era contínuo, havendo pequenos estados independentes, que mantinham relações amistosas com os astecas. Estes pequenos enclaves, não pagavam tributos ao Império, porém concediam o livre direito de passagem aos comerciantes, militares e funcionários do governo, para evitar conflitos com os astecas. 
       Enquanto isso, outros estados defendiam de forma feroz sua autonomia e independência. Era o caso, por exemplo, do organizado Reino de Michoacán. O Império precisava defender-se constantemente deste, e isso, incluía uma base de defesa na província de Tepequacuilco com as tropas mantidas em prontidão, para a proteção contra qualquer ataque. As localidades com guarnições militares, não pagavam tributos ao Império, porém era de sua responsabilidade cobrir os custos de manutenção das tropas.
       No que diz á respeito á impostos e tributos, estes eram recolhidos pelos calpixque de uma á quatro vezes por ano, dependendo da localidade e condições geográficas, de fauna e flora era pago em gêneros como tecidos de algodão, cereais, grãos oleaginosos, ouro em pó, cacau, cobre, objetos de luxo, turquesas, plumas de quetzal, madeiras, jóias, cogumelos alucinógenos, armas, peles de jaguar, tintas, etc. Inicialmente os tributos eram divididos: 2/5 para Tenochtitlán, 2/5 para Texcoco e 1/5 para Tlacopan. Os calpixque eram os responsáveis por manter os registros dos tributos em dia, além de sua arrecadação e transporte. A ele cabia, em caso de não pagamento, o ordenamento de cultivo nas terras da província e o encaminhamento dos produtos ao México. Havia um calpixque em cada província. As leis astecas eram severas com os funcionários que desviassem tributos, ou os usasse em benefício próprio, punindo-os com a pena de morte, e a confiscação de seus bens.    
  As cidades conquistadas ou submissas ao Estado Asteca, mantinham inalteradas suas formas de governo, poderes autônomos e suas dinastias locais. Estas eram forçadas a renunciar uma política externa e militar independentes, além de admitir em seus domínios o culto à divindade asteca Uitzilopochtli. Em localidades estratégicas, coexistia com o chefe local, o Governador Asteca, com funções exclusivamente militares.
                         
                       Montezuma ou Moctezuma II - Soberano Asteca


    O “Império Asteca”, representado e comandado por Tenoctitlán, estava estruturado segundo o modelo tolteca. Neste caso, o poder pertencia á um chefe saído da aristocracia militar, eleito vitalicialmente no seio de uma mesma família (o que chamamos de dinastia), o qual era assistido por um conselho. Durante os primeiros reinados, o soberano era eleito pela Assembléia Geral dos Guerreiros. Porém, com o decorrer do tempo, esse colégio eleitoral formado pelos treze dignitários supremos (os mais altos funcionários da hierarquia), representantes do Grande Conselho, guerreiros, sacerdotes, representantes do bairro, caiu sobre o controle da oligarquia militar e sacerdotal. Do primeiro soberano, Acamapichtli até Motechuzoma II o poder esteve ininterruptamente no seio da mesma família, isso é, todos pertenceram á mesma dinastia.
    Entre 1440 e 1469 os astecas estiveram sob o comando de Motechuzoma I. Este nomeou seu irmão Tlacaeleltzin, o ciauacoatl, uma espécie de vice-imperador, com praticamente as mesmas funções do tlatoani (imperador): comandava expedições militares, julgava apelações, substituía o imperador ausente, entre outras funções, esta fora uma medida inovadora na época.
    Na estrutura administrativa destacava-se a presença de quatro grandes dignitários, entre eles o tlacateccatl (“chefe dos guerreiros”) e o tlacochcakatl (encarregado da “casa de dardos”). Estes altos postos eram ocupados por parentes próximos do soberano, que poderiam ser chamados para substituí-lo. Como exemplo, podemos citar Motechuzoma II, que fora tlacochcakatl de seu pai, Auitzolt. Além disso, havia um escalão de altos funcionários responsáveis pela guarda de celeiros e armazéns onde se empilhavam tributos.
     No que diz respeito ás decisões importantes do imperador, este decidia após consultar o ciuacoatl, seus dignitários e seu grande conselho. O tlatocan (Grande Conselho) poderia rejeitar até três vezes uma proposição do imperador, porém na quarta vez, deveria submeter-se e aceitar o que fora proposto pelo imperador.
   Na capital Tenochtitlán, havia o uey calpixqui, um cargo com funções semelhantes ao de um prefeito. O uey calpixqui ainda acumulava a função de “Ministro das Finanças” do imperador.
    Há muita controvérsia sobre a forma de governo asteca. Alguns historiadores levantam a tese de que se tratava de uma República, porém o mais aceito pelos historiadores modernos é de que se tratava de uma Monarquia eletiva.
    Em Texcoco, o tlatoani era assessorado por quatro grandes conselhos: Governo e Justiça, Finanças, Guerra e Música e o trono era hereditário, sendo passado de pai para filho. Com o tempo o poder militar, econômico e político do Império concentraram-se nas mãos do soberano de Tenochtitlán e de seus dignitários.  Nesse contexto Texcoco, passou a ser a capital intelectual e literária, sede do Tribunal Superior de recursos, que se reunia a cada oitenta dias.

Chinampas”: A avançada agricultura Asteca
     

     Inicialmente em Tenochitlán, as terras eram escassas, pois tratava-se de uma região pantanosa. Para resolver o problema, os astecas desenvolveram uma técnica de “construção” de ilhas artificiais para o cultivo de gêneros. Eram as chinampas. No vídeo abaixo, de forma prática, explica-se o que eram as chinampas:


       Na verdade tratava-se de um canteiro flutuante, construído com toras de madeira e presos ao fundo do lago com pesadas pedras. Para o preenchimento desse canteiro, era utilizado lama e galhos do próprio lago. As chinampas eram extremamente produtivas, uma vez que poderiam render de cinco á sete colheitas por ano, enquanto, uma plantação na região dos vales, rendia no máximo três. Nestes canteiros eram cultivados o milho (principal alimento do cardápio asteca, consumido em bolos, cozidos e pãezinhos), vagens, plantas oleaginosas (sálvia e amaranto, muito usadas para fazer mingaus), abóbora, tomate, pimenta e feijão. 
     Teria sido essa agricultura próspera, bem mais avançada que a européia do mesmo período, um instrumento que impulsionou a expansão das fronteiras do Império, principalmente por manter uma grande reserva de gêneros e um exército bem alimentado? 

Ciência X Religião ou Ciência + Religião

                Enquanto na Europa Ocidental tentava-se dissociar religião e ciência, misticismo e experimentalismo, na civilização asteca ocorria exatamente o contrário. Ciência e religião eram intimamente ligadas, pois os sacerdotes representavam justamente a camada mais erudita da sociedade, não estando ligada ao trabalho nem as guerras. 
     No campo das ciências exatas, os astecas assimilaram muitos conhecimentos de outros povos antigos do México, um dos exemplos clássicos foi á utilização de um calendário bem parecido com o dos antigos maias, baseado na observação dos astros, o que gerava bastantes crenças astrológicas na população. No que se refere á engenharia, a construção de aquedutos e diques, mostram a notória habilidade de construção desse povo. Na matemática, possuíam um curioso sistema de numeração: três símbolos – uma concha, um ponto e um traço – com os quais poderiam representar quaisquer números, possuindo uma noção de zero.
     Ao que tange a crença e aos deuses, o panteão asteca era constituído desde deuses essencialmente astecas, quanto de deuses incorporados de outras culturas vizinhas. Inicialmente, o deus principal era Quetzalcoatl. Estudos mais recentes levam á crer, que a religião asteca caminhava lentamente para o monoteísmo, visto que as divindades cada vez mais se reuniam em uma só: Uitzilopochtli.
     Como em outras culturas antigas, os astecas conviviam com o medo do fim do mundo, que poderia ocorrer ao final de cada ciclo de 52 anos: O quarto sol. Segundo as crenças astecas, o mundo já teria acabado outras três vezes. Após o terceiro fim, foram recriados graças a bondade de Quetzalcoatl, que resgatou os ossos dos mortos do “inferno” e os regou com o próprio sangue e governou entre eles. Quetzalcoatl foi expulso de seu trono por Tezcatlipoca, e mandado para “Tlillan Tlapallan” (“país vermelho e preto”, além do oceano oriental, ou seja, Oceâno Atlântico) de onde prometeu voltar.
           
     Para evitar o “quarto sol”, a cada 52 anos realizava-se a cerimônia do Fogo: o sacerdote sacrificava um prisioneiro. Na cerimônia abria-se o peito do prisioneiro, e com ele ainda vivo, pressionava-se uma tocha acessa no interior do indivíduo, quando a tocha se apagava dava-se início ao “fogo novo”. Seguia-se a cerimônia, a construção ou ampliação do templo, como forma de agradecimento e gratidão por mais 52 anos de existência. Cerimônias religiosas de sacrifícios humanos eram comuns em várias circunstâncias no cotidiano dos astecas. O sacrifício era recompensado pelos deuses na além-vida, voltando a terra como beija-flores ou colibris.

As Artes

     Muitas formas de artes se desenvolveram na sociedade asteca. A capital cultural do Império era a cidade de Texcoco, governada por Nezaualcoyotl, que reinou entre 1428 e 1472. O famoso governante, é considerado o maior intelectual da história do Império.
    As esculturas, ligadas fortemente ao artesanato, produziam representações desde divindades domésticas até esculturas em paredes, tais como jaguares e águias, feitas por artesãos de origem tolteca.
    Em plena Idade de Bronze os astecas conheciam e dominavam a forja de diversos metais, porém o ferro ainda não era conhecido. Nesse contexto, observava-se um grande desenvolvimento da ourivesaria, a qual deixou os espanhóis abismados. Plumas eram incluídas na ourivesaria e determinava á condição social de quem às ostentavam.
    A escrita asteca era hieroglífica (semelhante a egípcia), sendo as letras representadas por símbolos que indicavam determinadas coisas. Quando os espanhóis chegaram na América, a escrita estava em evolução, transformando-se numa escrita sonora, mais ainda hieroglífica.  
    A literatura asteca era marcada por poemas, com situações cômicas, trágicas ou amorosas. A vida dos governantes eram freqüentemente retratados pelos poetas. Ligados ao teatro, muitos eram escritos para serem representados por atores a membros das classes mais privilegiadas.
    A dança era praticada acompanhada ao som de musicas escritas pelos poetas e acompanhadas por diversos tipos de tambores, flautas, trombetas, conchas, reco-recos e guisos.
  
Sociedade:
      
   Durante os primórdios da civilização asteca e ao se fixar no Vale do México, seu povo apresentava-se como uma tribo homogênea e igualitária, formada essencialmente por guerreiros e cultivadores, que reconheciam os sacerdotes como os únicos líderes. Porém sob a influência política e cultural dos povos vizinhos, assim como de seus povos conquistados, a sociedade asteca se tornou amplamente hierarquizada.No apogeu da civilização asteca, a base de sua pirâmide social era constituída pelos escravos (tlactli, sendo sua forma plural: tlatlacotin), a classe mais baixa da sociedade. Essa camada era constituída por prisioneiros de guerra destinados a sacrifícios nas grandes cerimônias; condenados pela justiça civil (os quais não cumpriam prisão, e sim eram obrigados a trabalhar para a coletividade ou para pessoa que haviam prejudicado). Haviam casos em que homens e mulheres vendiam-se voluntariamente como escravos á um grande senhor, principalmente por terem arruinado-se em jogos e em bebidas. Porém os escravos astecas não eram açoitados, e eram bem nutridos e vestidos. Podiam desposar uma mulher livre e seus filhos nasciam livres. Podiam ser libertos a qualquer hora, seja por testamento do senhor, seja por pagamento de alforria, e de tempos em tempos, o Imperador decretava a libertação em massa desses escravos.
    Acima estavam os maceaultin, os simples cidadãos, a maior camada da sociedade. Á eles cabiam prestar serviço militar, pagar impostos e não podia negligenciar o trabalho coletivo, como as conservação de caminhos e canais, a construção de monumentos, diques. A partir do seu casamento, geralmente entre os 20 e 25 anos, recebiam do Estado um lote de terra para construir sua casa e cultivar seus gêneros. Quando alcançava idades mais avançadas, podiam integrar um conselho que se reunia em torno do chefe local. Seus filhos estudavam nas escolas do bairro. Recebia gêneros alimentícios e vestimentas do soberano, seja em períodos regulares, seja em períodos de escassez e inundações ou outras calamidades. A sociedade asteca pressionava os homens a carreira militar, o que os abriam caminhos para postos mais altos e elevação de nível social. A hierarquia militar era determinada pelas façanhas que cada qual conseguisse realizar: a captura de inimigos e prisioneiros para o sacrifício, e outros méritos. A ascendência a uma nova ordem militar, significava também o direito de usar novos tipos de vestes e adornos. Uma parte dos comandos, logo abaixo do imperador, era reservada para os guerreiros mais experiente e valorosos. Os que chegavam ao fim da vida militar, geralmente terminavam a vida ocupando algum cargo público. Outra forma de ascensão social era a ocupação de cargos sacerdotais de vários níveis, que podiam ser ocupados tanto por homens, quanto por mulheres.
    Os artesãos possivelmente descendentes dos toltecas. Incorporados pela sociedade asteca, esses artesãos transmitiam seu ofício de geração em geração, sendo a camada mais imóvel da sociedade. Pagavam impostos ao Estado e não estavam submetidos ao trabalho coletivo como os cidadãos comuns.
     Enquanto o pequeno comércio estava nas mãos dos maceaultin, o comércio exterior, especialmente o de artigos de luxo, estava nas mãos de poderosas corporações, denominadas pochteca. Representavam a fortuna privada na sociedade asteca e com passar do tempo foram adquirindo prestígio e influência, porém não tinha acesso ao poder político e a cargos públicos de destaque. Seu ofício era transmitido de pai para filho, e possuíam um status intermediário entre a classe dirigente e o povo.
    No auge da sociedade asteca uma dupla hierarquia dominava o poder político: os dignitários e sacerdotes.
   Os dignitários eram senhores investidos de poder civil, militar e judiciário. Estavam livres do pagamento de impostos e não cultivavam a terra. Dominavam vastas extensões de terras, porem estas eram cultivadas pelos maceaultin e escravos, que eram rendeiros. Mantinham um alto padrão de vida: moravam em palácios, possuíam um corpo de servidores, escravos e alguns funcionários, mantidos pelo erário público. Faziam a distribuição de terras aos cidadãos comuns, aplicavam a justiça no contexto da negligencia das terras e confiscavam as abandonadas. Alguns apontam essa classe como uma nobreza, pois esses privilégios e funções tinham uma tendência a se perpetuarem, uma vez que o cargo de dignitário era transmitido dentro do seio de uma mesma família. Tinham representação no Grande Conselho, o qual escolhia o imperador.
       Na religião, os sacerdotes se dividiam em diversos níveis, uns mais modestos outros de alto prestígio. Presos pelo celibato, os sacerdotes controlavam os cultos e cerimônias e também a educação dos filhos da aristocracia e grandes comerciantes em colégio denominados calmecac. Mantinham hospitais onde cuidavam de pobres e doentes, além de serem responsáveis pela preservação de documentos históricos. Possuíam vastas terras e recursos, frutos da devoção de soberanos e particulares, e estavam isentos do pagamento de impostos. Levavam uma vida monástica nos templos, expondo-se a jejuns e severas penitências.

Para não estender mais o assunto, irei tratar sobre a conquista dos Astecas pelos espanhóis em uma próxima oportunidade. Aos leitores, um grande abraço e até a próxima!
 
Referências:

A Civilização Asteca, Jacques Soustelle, Jorge Zahar Editora, 2002. Tradução, Maria Júlia Goldwasser.
Os Astecas, Judith Crosher, Editora Melhoramentos, 1998.

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