Mas afinal, quem era
Cabral?
Poucos documentos existem sobre Pedro
Álvares Cabral no período anterior a sua expedição.Sabe-se que sua
família mantinha vínculos de longa data com a Coroa Portuguesa. Seu trisavô
teve papel importante na Batalha de Aljubarrota, em 1385 e provavelmente por isso
tornou-se alcaide-mor (espécie de governador) da região do Castelo de Belmonte.
Provavelmente sua indicação ao comando da expedição se deveu, ao bom casamento
contraído com D. Isabel de Castro neta do Rei Dom Henrique de Castela, e ao
fato de ser membro da Ordem de Cristo. Pedro Álvares provavelmente era somente
o chefe militar, cabendo o comando a homens como Pero Escobar.
A Expedição
A expedição de Cabral nasceu do desejo do rei
Dom Manuel I de vangloriar os até então recentes feitos portugueses ao mar,
sendo o maior deles a chegada de Vasco da Gama as Índias. Além disso, pretendia
uma demonstração de poder ao Reino da Espanha e a afirmação frente à Veneza,
até então detentora do monopólio de especiarias na região do Mediterrâneo e
suas adjacências. Os preparativos ocorreram às pressas, tendo os estaleiros
portugueses trabalhado noite e dia na construção, aparelhamento e reparos nas
embarcações que comporiam a esquadra. Além disso, a partida não poderia ocorrer
depois de fins de março, visto que as monções -condição climática associada ao
direcionamento dos ventos no sentido oeste-leste que permitia o atravessamento
da África para Índia via Oceano Índico - se aproximavam. Por fim o conflito
entre Vasco da Gama e Samorim de Calicute preocupava Dom Manuel, que queria
resolver a questão, seja por meio do conflito armado, seja pela diplomacia ou
pela sedução do ouro.
Ermida de São Jerônimo em Lisboa, ás margens do Tejo |
Ás doze horas do dia
seguinte, 9 de março, a frota portuguesa pôs se em movimento. Entre os 1.500
tripulantes distribuídos em diversos postos e funções, muitos eram novatos.
A Frota
A frota da expedição era dividida em duas divisões:
A primeira
divisão era composta por seis naus, duas caravelas, uma nau mercante e um
pequeno navio de mantimentos, além da nau-capitânia e a sota capitânia. A
Nau-Capitânia, embarcação onde viajava Cabral era formada por 190 homens, entre
eles 80 marinheiros e 70 soldados, tradutores, frades, sua guarda pessoal além
dos funcionários que cuidariam da feitoria, dentre os quais estavam Pero Vaz de
Caminha. Entre os capitães das outras embarcações da frota de Cabral
encontravam-se: Simão de Miranda de Azevedo, Aires Gom es da Silva, Simão de Pina, Vasco de Ataíde,
Nicolau Coelho (um dos maiores navegadores da história portuguesa, que também
participara como capitão da nau Bérrio na expedição de Vasco da Gama), Gaspar
Lemos, Pero de Ataíde, Nuno Leitão da Cunha e Luis Pires. Todos esses capitães
eram muito bem remunerados, além disso, conforme sua posição hierárquica dentro
da expedição, poderiam comerciar uma certa quantidade de mercadorias nas Índias
elevando bastante seus ganhos. O capital
privado composto basicamente por banqueiros florentinos e genoveses teve papel
fundamental na expedição, seja no financiamento da expedição seja no
adiantamento dos salários dos tripulantes. Associados a comerciantes e nobres
lusos, os banqueiros conquistaram também o direito de enviar duas embarcações mercantis
junto da expedição.
A segunda
divisão era composta por uma caravela e uma nau, ambas com 80 e 150 homens
á bordo, sob o comando do lendário Bartolomeu Dias e seu irmão Diogo Dias. Essa
pequena divisão da frota de Cabral tinha por missão a criação de uma feitoria
em Sofala, no atual território de Moçambique.
A tripulação
Estátua de Cabral na Vila de Belmonte em Portugal |
Contando com a experiência de homens
como os irmãos Dias, Nicolau Coelho e Pero de Escobar no comando dos
marinheiros e da navegação, Cabral na verdade comandava um quartel que flutuava
sobre os mares, levando soldados armados e naus equipadas com canhões,
supostamente preparado para qualquer conflito com o Samorim e seus homens. Tais
soldados, inexperientes em combates, eram recrutados a força entre os
camponeses e muitos ainda nem tinha atingido a idade adulta. Além destes, como
de tradição, vários religiosos iam á bordo entre eles o frei Dom Henrique Soares
de Coimbra. Estes acreditavam estar viajando ao Oriente para encontrar-se com
os cristãos que lá viviam, acreditando nos relatos de Vasco da Gama que
acreditava que as representações dos deuses hindus consistiam em
representações de santos católicos. A alimentação á bordo, pouco mudara desde
as primeiras expedições. A água era escassa, os alimentos pereciam rapidamente
já no início da viagem, seja pelas condições climáticas dos trópicos ou pelas
péssimas condições de higiene das embarcações. O quadro de desnutrição e
péssimas condições de higiene acometiam a tripulação e sujeitava-a a diversas
enfermidades, sendo a mais temida o escoburto.
As condições de vida
nas embarcações portuguesas foram recentemente tratadas em outro texto aqui no
blog:A vida a bordo de uma embarcação portuguesa
Da praia do restelo a Ilha Vera Cruz
Navegando na direção sudoeste, a frota de Cabral percorreu
cerca de 700 milhas náuticas (cerca de 1.300 km) nos cinco primeiros dias da
viagem, tudo graças aos bons ventos encontrados. Após ultrapassar as Canárias,
e guiados pelos ventos alísios de nordeste a frota se direcionou a oeste rumo ás
ilhas de Cabo Verde. No dia 23 de março de 1500, a nau comandada por Vasco de Ataíde
desapareceu no mar. Após dois dias sem sinal da embarcação e de seus
tripulantes, concluiu-se que o navio naufragara. A partir de agora, era uma
embarcação e 150 homens a menos na expedição. Entre 29 e 30 de março o navio
ficou imóvel em uma região de calmarias, na zona equatorial. Nos próximos 10
dias o navio se movimentaria muito pouco, em uma velocidade mínima. A monotonia
tomava conta dos marujos nessas calmarias: jogos de carteados e romances de
cavalaria ocupavam um pouco do tempo, embora fossem duramente reprimidos e condenados
pelos religiosos. Em 9 de abril, a frota cruzava o equador. Seguindo as
recomendações de Vasco da Gama, a frota seguiu rumo sudoeste e voltou a se
deslocar com boa velocidade. As celebrações religiosas nas navegações eram
muito comuns. Na costa brasileira, na altura de Salvador fora celebrado o
domingo de Páscoa. Ao por do sol do dia 22 de abril de 1500 a frota de Cabral
ancorava num ponto do litoral. No dia seguinte, ao amanhecer os homens da
armada teriam uma visão que mudaria a nossa história: o Monte Pascal com as
serras que o cercavam, as aves, as flores e homens nus que caminhavam pela praia. Continua.
Críticas e sugestões
caminhosdahistoria@hotmail.com
Continuação em :
A Expedição de Cabral - Parte II: A chegada a Ilha de Vera cruz
Críticas e sugestões
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Continuação em :
A Expedição de Cabral - Parte II: A chegada a Ilha de Vera cruz
Excelente texto. Me ajudou demais em um livro que estou escrevendo. Agradeço.
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