sábado, 11 de maio de 2013

A Expedição de Cabral – Parte I: Da Partida á chegada a terra de Vera Cruz


Mas afinal, quem era Cabral?

       Poucos documentos existem sobre Pedro Álvares Cabral no período anterior a sua expedição.Sabe-se que sua família mantinha vínculos de longa data com a Coroa Portuguesa. Seu trisavô teve papel importante na Batalha de Aljubarrota, em 1385 e provavelmente por isso tornou-se alcaide-mor (espécie de governador) da região do Castelo de Belmonte. 

Cédula de Mil Cruzeiros - Brasil -Pedro Álvares Cabral
    Provavelmente sua indicação ao comando da expedição se deveu, ao bom casamento contraído com D. Isabel de Castro neta do Rei Dom Henrique de Castela, e ao fato de ser membro da Ordem de Cristo. Pedro Álvares provavelmente era somente o chefe militar, cabendo o comando a homens como Pero Escobar.

A Expedição
     
       A expedição de Cabral nasceu do desejo do rei Dom Manuel I de vangloriar os até então recentes feitos portugueses ao mar, sendo o maior deles a chegada de Vasco da Gama as Índias. Além disso, pretendia uma demonstração de poder ao Reino da Espanha e a afirmação frente à Veneza, até então detentora do monopólio de especiarias na região do Mediterrâneo e suas adjacências. Os preparativos ocorreram às pressas, tendo os estaleiros portugueses trabalhado noite e dia na construção, aparelhamento e reparos nas embarcações que comporiam a esquadra. Além disso, a partida não poderia ocorrer depois de fins de março, visto que as monções -condição climática associada ao direcionamento dos ventos no sentido oeste-leste que permitia o atravessamento da África para Índia via Oceano Índico - se aproximavam. Por fim o conflito entre Vasco da Gama e Samorim de Calicute preocupava Dom Manuel, que queria resolver a questão, seja por meio do conflito armado, seja pela diplomacia ou pela sedução do ouro.
Ermida de São Jerônimo em Lisboa, ás margens do Tejo
         O dia da partida: domingo, 8 de março do ano de 1500, que na verdade foi só o dia do embarque. No porto da praia do Restelo, na foz do Rio Tejo, celebrações e festividades antecederam a partida da esquadra no dia seguinte. O rei Dom Manuel, sua corte e os banqueiros que financiaram aquela caríssima expedição se acomodaram na pequena Ermida de São Jerônimo ás margens do Tejo. Após o sermão do bispo de Ceuta, Dom Diogo Ortiz, Dom Manuel entregou a Pedro Álvares Cabral uma bandeira da Ordem dos Cavaleiros de Cristo - originária dos Cavaleiros Templários da Idade Média que se refugiaram em Portugal e foram acolhidos pelo Rei Dom Dinis após a extinção da Ordem pela aliança Felipe, o Belo e Papa Clemente V em 1314 – e logo em seguida partiram em procissão rumo ao porto. Inclusive a influência dos Cavaleiros de Cristo era grande, sendo perceptível a presença da Cruz de Copta, símbolo máximo da ordem, nas velas das embarcações portuguesas. Por fim, Dom Manuel estendeu a mão para que Cabral e seus Capitães a beijassem. Ao som de trombetas, flautas, tambores, pandeiros e gaitas, e com a população lisboeta concentrada na praia do Restelo, a expedição de Cabralp artiu em “direção ás Índias”.
      Ás doze horas do dia seguinte, 9 de março, a frota portuguesa pôs se em movimento. Entre os 1.500 tripulantes distribuídos em diversos postos e funções, muitos eram novatos.

A Frota

       A frota da expedição era dividida em duas divisões:
        A primeira divisão era composta por seis naus, duas caravelas, uma nau mercante e um pequeno navio de mantimentos, além da nau-capitânia e a sota capitânia. A Nau-Capitânia, embarcação onde viajava Cabral era formada por 190 homens, entre eles 80 marinheiros e 70 soldados, tradutores, frades, sua guarda pessoal além dos funcionários que cuidariam da feitoria, dentre os quais estavam Pero Vaz de Caminha. Entre os capitães das outras embarcações da frota de Cabral encontravam-se: Simão de Miranda de Azevedo, Aires Gom    es da Silva, Simão de Pina, Vasco de Ataíde, Nicolau Coelho (um dos maiores navegadores da história portuguesa, que também participara como capitão da nau Bérrio na expedição de Vasco da Gama), Gaspar Lemos, Pero de Ataíde, Nuno Leitão da Cunha e Luis Pires. Todos esses capitães eram muito bem remunerados, além disso, conforme sua posição hierárquica dentro da expedição, poderiam comerciar uma certa quantidade de mercadorias nas Índias elevando bastante seus ganhos.  O capital privado composto basicamente por banqueiros florentinos e genoveses teve papel fundamental na expedição, seja no financiamento da expedição seja no adiantamento dos salários dos tripulantes. Associados a comerciantes e nobres lusos, os banqueiros conquistaram também o direito de enviar duas embarcações mercantis junto da expedição.
       A segunda divisão era composta por uma caravela e uma nau, ambas com 80 e 150 homens á bordo, sob o comando do lendário Bartolomeu Dias e seu irmão Diogo Dias. Essa pequena divisão da frota de Cabral tinha por missão a criação de uma feitoria em Sofala, no atual território de Moçambique.

A tripulação
Belmonte - estátua de Pedro Álvares Cabral
Estátua de Cabral na Vila de Belmonte em Portugal
       Contando com a experiência de homens como os irmãos Dias, Nicolau Coelho e Pero de Escobar no comando dos marinheiros e da navegação, Cabral na verdade comandava um quartel que flutuava sobre os mares, levando soldados armados e naus equipadas com canhões, supostamente preparado para qualquer conflito com o Samorim e seus homens. Tais soldados, inexperientes em combates, eram recrutados a força entre os camponeses e muitos ainda nem tinha atingido a idade adulta. Além destes, como de tradição, vários religiosos iam á bordo entre eles o frei Dom Henrique Soares de Coimbra. Estes acreditavam estar viajando ao Oriente para encontrar-se com os cristãos que lá viviam, acreditando nos relatos de Vasco da Gama que acreditava que as representações dos deuses hindus consistiam em representações de santos católicos. A alimentação á bordo, pouco mudara desde as primeiras expedições. A água era escassa, os alimentos pereciam rapidamente já no início da viagem, seja pelas condições climáticas dos trópicos ou pelas péssimas condições de higiene das embarcações. O quadro de desnutrição e péssimas condições de higiene acometiam a tripulação e sujeitava-a a diversas enfermidades, sendo a mais temida o escoburto.
As condições de vida nas embarcações portuguesas foram recentemente tratadas em outro texto aqui no blog:A vida a bordo de uma embarcação portuguesa

Da praia do restelo a Ilha Vera Cruz

        Navegando na direção sudoeste, a frota de Cabral percorreu cerca de 700 milhas náuticas (cerca de 1.300 km) nos cinco primeiros dias da viagem, tudo graças aos bons ventos encontrados. Após ultrapassar as Canárias, e guiados pelos ventos alísios de nordeste a frota se direcionou a oeste rumo ás ilhas de Cabo Verde. No dia 23 de março de 1500, a nau comandada por Vasco de Ataíde desapareceu no mar. Após dois dias sem sinal da embarcação e de seus tripulantes, concluiu-se que o navio naufragara. A partir de agora, era uma embarcação e 150 homens a menos na expedição. Entre 29 e 30 de março o navio ficou imóvel em uma região de calmarias, na zona equatorial. Nos próximos 10 dias o navio se movimentaria muito pouco, em uma velocidade mínima. A monotonia tomava conta dos marujos nessas calmarias: jogos de carteados e romances de cavalaria ocupavam um pouco do tempo, embora fossem duramente reprimidos e condenados pelos religiosos. Em 9 de abril, a frota cruzava o equador. Seguindo as recomendações de Vasco da Gama, a frota seguiu rumo sudoeste e voltou a se deslocar com boa velocidade. As celebrações religiosas nas navegações eram muito comuns. Na costa brasileira, na altura de Salvador fora celebrado o domingo de Páscoa. Ao por do sol do dia 22 de abril de 1500 a frota de Cabral ancorava num ponto do litoral. No dia seguinte, ao amanhecer os homens da armada teriam uma visão que mudaria a nossa história: o Monte Pascal com as serras que o cercavam, as aves, as flores e homens nus que caminhavam pela praia. Continua.

Críticas e sugestões
caminhosdahistoria@hotmail.com

Continuação em :
 A Expedição de Cabral - Parte II: A chegada a Ilha de Vera cruz

Um comentário:

  1. Excelente texto. Me ajudou demais em um livro que estou escrevendo. Agradeço.

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