Mapa de 1502, já mostrando a indicação da terra "recém-descoberta por Cabral
A viagem de Vera Cruz á Calicute
Nos
dias que se sucederam a partida de Cabral da terra de Vera Cruz, possivelmente
entre 2 ou 3 de maio, sua frota navegou ao longo da costa brasileira na direção
sul por mais de mil quilômetros, só se afastando dela na altura de Cabo Frio,
no atual Rio de Janeiro o que começaria a mudar a noção sobre o tamanho do
território “recém-descoberto”. Daí em diante, navegando a sudeste, a frota de
Cabral iria passar por uma série de infortúnios e desastres. No dia 23 de maio,
nas proximidades do Cabo da Boa Esperança uma tempestade provocou pesadas baixas
aos lusos: as embarcações de Aires Gomes, Simão de Pina, Luís Pires e
Bartolomeu Dias – o mítico navegador que fora o primeiro a cruzar o Cabo das
Tormentas - afundaram e junto delas quase 400 tripulantes foram engolidos pelo
mar. Os navios que restaram se separaram no mar, se reencontrando somente no dia
16 de Julho na ilha de Quiloa, na costa do atual Quênia. Em fins de julho, os
navios pararam para reparos nas proximidades de Sofala.De Sofala a frota foi
para Melinde, onde aportou no dia 2 de agosto de 1500. Lá obteve do Xeque Omar
um piloto hindu que lhes instruiriam até Calicute.
A
nau de Diogo Dias não conseguiu se reagrupar a frota de Cabral e se tornou o
primeiro navio europeu que se tem notícia a navegar no Mar Vermelho. Incapaz de
atravessar até as Índias retornou á Portugal, chegando a Lisboa com apenas sete
homens. O restante foi vitimado pelas doenças, pela fome e pela sede no mar.
Chegada a Calicute
Era
13 de setembro de 1500. Mais de seis meses após a partida de Lisboa, finalmente
a frota de Cabral alcançava seu principal objetivo: as Índias. Durante três
meses os portugueses permaneceram em Calicute, um opulento centro comercial,
onde mercadores árabes negociavam a gerações. Os portugueses ficaram
maravilhados com as riquezas que fluíam pela cidade indiana, e os hindus e árabes
ficaram espantados com o estrondo das armas lusas. Em fins de setembro, por
ordens de Cabral membros da elite religiosa de Calicute foram capturados e
mantidos como reféns nos navios portugueses por ordens de Cabral. O Samorim de
Calicute (“Senhor do Mar”) convidou Cabral para um encontro. Cabral
entregou-lhe a carta de Dom Manuel que fora escrita em árabe pelo fidalgo Duarte Galvão, além de
presenteá-lo com moedas de ouro e prata, e seda. Bem diferente dos presentes
baratos dados por Vasco da Gama. Satisfeito com os presentes que recebera, o
Samorim deu permissão á Cabral para que ele instalasse feitoria no porto da
cidade. Mas enfim isso não agradou em nada os concorrentes árabes.
No
dia 16 de dezembro de 1500, a feitoria portuguesa foi atacada por cerca de trezentos
árabes e hindus, causando a baixa de cinqüenta portugueses, entre eles Pero Vaz
de Caminha e o feitor Aires Correa. A reação portuguesa foi imediata: Calicute
foi bombardeada ininterruptamente por dois dias, causando muitas mortes e danos
a cidade. Navios árabes no porto tiveram suas mercadorias confiscadas pelos
lusos, foram incendiados e afundados e seus cerca de 600 tripulantes foram
mortos. A revolta foi graças á sucessivas vantagens no comércio que os portugueses
receberam do Samorim.
Após
o conflito os portugueses se dirigiram ao reino de Cochim ao sul, reino rival
de Calicute. Lá fora permitido aos portugueses a instalação de uma feitoria.
A Volta pra Casa
No
dia 16 de janeiro de 1501 com os navios abarrotados de especiarias e os
negócios garantidos nas Índiasgats, Cabral retornava á Lisboa. Após atravessar
o Oceano Índico a nau de Sancho de Tovar ficou encalhada num banco de areia.
Vista a impossibilidade de resgatá-la foi incendiada. Em 22 de maio, desta vez
sem imprevistos, a frota cruzava o Cabo da Boa Esperança.
Em
23 de junho de 1501, o primeiro navio da frota de Cabral aportou em Lisboa: a
caravela Anunciada. Cabral chegou um mês
depois em 23 de julho, sendo recebido pelo rei em seu palácio de verão em
Santarém. Os navios que Cabral trouxera das índias renderam muitos lucros á
Portugal, provocando alterações nos preços por toda Europa.
Mas
uma vez o rei Dom Manuel vangloriou os feitos portugueses frente aos sogros e
rivais reis Fernando e Isabel da Espanha. Á partir daí as viagens as Índias se
tornariam freqüentes e anuais: era a “Carreira das Índias”.
Referências
Bibliográficas
BUENO, Eduardo – A vigem do descobrimento – Um outro olhar
sobre a expedição de Cabral.
CAMINHA, Pero Vaz – Carta a El-Rei D.Manuel.
SALVADOR, Frei Vicente
do – História do Brasil por Frei Vicente do Salvador.
PEIXOTO, Afrânio –
História do Brasil.
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